Parabéns, Brasil! Hoje comemoramos o feriado nacional da Consciência Negra. O propósito oficial? Celebrar a resistência do povo negro e promover reflexões sobre sua história e cultura. Que avanço extraordinário!
Neste momento supostamente mágico, todos os problemas parecem resolvidos por decreto. Puf! O racismo acabou, a desigualdade evaporou, e vivemos num conto de fadas sem preconceitos. As estatísticas de violência contra negros viram números cor-de-rosa, as oportunidades de emprego brotam feito cogumelos, e os olhares tortos em shoppings somem num e de mágica.

Claro, a realidade teima em não cooperar com nossa narrativa festiva. Como explicar para Viola Davis que, mesmo sendo a “Meryl Streep melaninada”, seu cachê é diferente? Ou como justificar que, em pleno século XXI, futuros advogados da PUC ainda acham graça em piadas racistas?
O Atlas da Violência 2024 nos presenteia com dados reconfortantes. 76% das vítimas de homicídio são negras. Ora, devem estar comemorando com mais entusiasmo, não é?
Gilberto Freyre deve estar dando piruetas no túmulo. Nossa “democracia racial” evoluiu tanto que agora temos um dia inteiro para fingir que ela existe. Quase tão convincente quanto acreditar que a escravidão foi uma grande festa entre a casa-grande e a senzala.
Sejamos justos: progresso é progresso. Quem sabe, daqui a alguns milênios, possamos realmente celebrar algo de verdade. Por enquanto, vamos curtir esse teatrinho. Afinal, é nisso que somos craques, não é?
Então, bora lá, Brasil! Comemore esse dia histórico. Dance, cante, tire selfies com seus amigos negros (você tem algum, né?). Não esqueça de postar nas redes sociais com a hashtag #ConsciênciaNegraNaFolha.
Agora, caro leitor, uma pergunta sincera: quando você vê um homem branco e um negro juntos numa situação suspeita, para quem você olha primeiro? Seja honesto consigo mesmo. Não consegue ser honesto na resposta? Ah, desculpe aí… aproveite o feriado! A consciência pode esperar até amanhã… ou até o ano que vem.