Por Rhadson Monteiro | Hoje, 21 de abril de 2025, o mundo despertou em luto. Recebemos com profunda tristeza a notícia do falecimento do Papa Francisco, uma perda que ultraa as fronteiras da Igreja Católica e toca todas as pessoas que lutam por justiça social, dignidade dos mais vulneráveis e proteção do planeta. Sua partida nos deixa sem uma das vozes mais firmes e necessárias na defesa de uma ética global voltada à sustentabilidade e ao respeito à vida em todas as suas formas.
Primeiro pontífice latino-americano e representante do Sul Global, o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, ao se tornar Papa, escolheu o nome “Francisco” em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo do amor aos pobres, aos animais e à natureza. Desde o início de seu pontificado, em 2013, destacou-se por uma liderança progressista, corajosa e profundamente comprometida com os desafios éticos do nosso tempo. Com convicção rara, afirmou que não há separação entre justiça social, espiritualidade e cuidado ambiental. Sua visão de que o futuro da humanidade está intrinsecamente ligado ao destino do planeta: “Nossa casa comum”.

Há quase dez anos, em 24 de maio de 2015, Francisco lançava a histórica encíclica “Laudato Si’: Sobre o Cuidado da Casa Comum”. Este documento revolucionário ultraou os limites religiosos, interpelando cientistas, filósofos, organizações sociais e pessoas das mais diversas origens. Laudato Si’ tornou-se mais que uma referência religiosa; transformou-se em uma poderosa convocação global à “conversão ecológica”, um apelo urgente e profundo para mudarmos nossa forma de viver e de cuidar uns dos outros e da natureza. Como enfatizou Francisco “a conversão ecológica que se requer para criar um dinamismo de mudança duradoura é também uma conversão comunitária”
O conceito de “ecologia integral”, central na mensagem do Papa, estabelece pontes entre as mais variadas disciplinas e culturas, lembrando-nos dos laços afetivos e éticos que devem unir humanos e todas as outras formas de vida. No Sínodo da Amazônia em 2019, o Papa Francisco expressou claramente seu sonho por uma Amazônia inclusiva e justa, enfatizando que a luta pelos direitos dos mais pobres é inseparável da defesa ambiental. Sua voz ecoou com clareza profética: “O nosso sonho é de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes, para poderem consolidar o bem viver. Mas impõe-se um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres.”
Em 4 de outubro de 2023, próximo à COP28, Francisco voltou a erguer sua voz poderosa na exortação apostólica “Laudate Deum”, denunciando com coragem o avanço do negacionismo climático e alertando para os sinais incontestáveis de uma crise global que nos afeta a todos. Novamente, suas palavras ultraaram os muros da Igreja, ecoando em movimentos sociais, nas ciências e na política internacional, chamando a atenção para as desigualdades globais e as mudanças climáticas que exigem ações urgentes e corajosas.

Neste momento de luto e reflexão profunda, sentimos especialmente a falta da presença e da voz de Francisco. Sua mensagem ecológica permanece viva e profundamente necessária, justamente em um ano crucial para o Brasil e o mundo. Em novembro, nosso país sediará a COP30, um momento decisivo na agenda climática global. Paralelamente, a Campanha da Fraternidade 2025, promovida pela CNBB, tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, um claro reflexo da influência profunda e duradoura do pensamento deste pontífice.
Ao nos despedirmos de Francisco, recordamos e celebramos sua vida dedicada à construção de um mundo mais justo, sustentável e fraterno. Que suas palavras continuem guiando nossas ações e fortalecendo nosso compromisso com a justiça ambiental e social. Afinal, como ele sabiamente nos alertou: “O grito da terra e o grito dos pobres não podem mais esperar.”