Morreu nesta última sexta-feira (23), aos 81 anos, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, um dos nomes mais reconhecidos da fotografia documental no mundo. Ele estava internado em Paris, na França, onde vivia com a esposa e parceira de vida e trabalho, Lélia Wanick Salgado. A causa da morte foi leucemia, agravada por complicações decorrentes de uma malária contraída durante expedições fotográficas.
Figura icônica da fotografia humanista, Salgado deixa um legado visual que atravessa fronteiras, guerras, florestas e povos esquecidos. Suas imagens em preto e branco não apenas documentaram a realidade — elas a traduziram em poesia.
Diante do tamanho e do reconhecimento mundial do brasileiro, o Portal 27 realizou uma reportagem especial sobre sua vida, confira abaixo.
Uma trajetória moldada pela luz e pela humanidade
Nascido em 8 de fevereiro de 1944, em Aimorés, no interior de Minas Gerais, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior formou-se em Economia e, por alguns anos, atuou como economista na Organização Internacional do Café. Mas foi ao acompanhar uma viagem à África, nos anos 1970, com a câmera de Lélia nas mãos, que Salgado descobriu a fotografia — e ela, ele.
A partir daí, abandonou a carreira anterior e se dedicou exclusivamente à nova vocação. Iniciou na agência Sygma, ou pela Gamma e integrou a prestigiosa Magnum Photos. Mas foi como fotógrafo independente, ao lado de Lélia, que seus grandes projetos ganharam forma.
O fotógrafo do mundo
Salgado percorreu mais de 120 países ao longo de sua carreira, registrando conflitos, êxodos, trabalhos árduos e paisagens inexploradas. Seus principais ensaios são considerados marcos da fotografia documental:
Fotografia da série Trabalhadores. Trabalhadores (1996): um épico visual sobre a dignidade do trabalho braçal em diversas partes do mundo.
Êxodos (2000): um retrato comovente de migrantes e refugiados, mostrando o deslocamento humano como fenômeno global.
Gênesis (2013): uma celebração da natureza intocada e dos povos que ainda vivem em equilíbrio com ela.
Amazônia (2021): sua última grande obra, fruto de sete anos de expedições pela floresta amazônica e contato com comunidades indígenas.
A estética de Salgado — sempre em preto e branco, com contrastes intensos — tornou-se sua marca registrada. Mais do que imagens belas, suas fotografias são gritos visuais por justiça, dignidade e memória.
Reflorestar o mundo: Instituto Terra
Além da fotografia, Salgado dedicou-se à regeneração ambiental. Em 1998, fundou com Lélia o Instituto Terra, iniciativa que promove o reflorestamento e a educação ambiental no Vale do Rio Doce, sua terra natal. Mais de 2 milhões de árvores foram plantadas, transformando antigas pastagens degradadas em floresta novamente.
Homenagens e eternidade
Sua vida foi retratada no premiado documentário “O Sal da Terra” (2014), dirigido por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, seu filho. O filme foi indicado ao Oscar e consolidou sua imagem como um humanista visual do século XXI.
Membro da Academia de Belas-Artes da França desde 2016, Salgado recebeu as mais altas condecorações da arte e da cultura ao redor do mundo, incluindo o Prêmio Príncipe de Astúrias e o Praemium Imperiale.
Após o anúncio de sua morte, líderes políticos, instituições culturais e artistas prestaram homenagens. O presidente Lula lamentou a perda em nota oficial, afirmando que “Sebastião Salgado nos ensinou a ver com a alma, não apenas com os olhos”.
Uma lente que jamais se apaga
Sebastião Salgado parte deixando uma obra vasta, comovente e essencial. Suas fotos continuarão a falar em nome dos que não têm voz, a lembrar que há beleza mesmo na dor e que a arte pode ser um instrumento de transformação social.
Em cada clique, Salgado plantou sementes de consciência. Agora, cabe a nós regá-las.
“A fotografia é uma linguagem universal. Ela nos conecta como humanos.” — Sebastião Salgado
