Talvez você ainda nem tivesse nascido. Mas se a sua idade ultraa os 40 anos, você teve a oportunidade de acompanhar de perto todo o processo da construção civil da cidade juntamente com a evolução do turismo de Guarapari. É que na década de 70, mal tinha casas construídas no balneário, que dirá alguns prédios. Eis que vêm de mudança para a cidade, o pai e o tio de Fernando Campos, atualmente o presidente do Sindicato da Construção Civil do município (SINDICIG).

Ainda bem pequeno, com cinco anos de idade, Fernando Campos pôde ver de perto, a construção das primeiras casas na Praia do Morro e algumas do Centro da cidade. “No início da década de 70, com cinco anos de idade, meu pai veio junto com meu tio com o objetivo de construir na cidade. As primeiras 100 casas na Praia do Morro, algumas no Centro – para terceiros ou moradores daqui foram meu pai e meu tio que planejaram e executaram. A Praia do Morro tinha acabado de ser aberta. Tinha um ou dois prédios já construídos. Tinha alguns construtores mais antigos já trabalhando por aqui. E minha família veio para somar com eles e fazer parte da construção da cidade desde a década de 70”, conta Fernando.
Enquanto a cidade era edificada, o turismo também começava a surgir. “Além de construir a cidade, a gente também fez parte da construção do turismo por aqui. Na época, nossa família construía as casas e planejava como o turista poderia se instalar na cidade. As casas eram construídas na frente e minha família fazia barracões nos fundos do quintal. Assim, quando as casas eram alugadas, a gente ia para os barracões nos fundos. Quem alugava, costumava ficar de três a quatro meses na cidade, e a gente morando nos fundos. Naquela época, o período de verão era maior”.

Fernando lembra que quando se mudou para Guarapari não tinha muitos hotéis ou pousadas, e o turismo era feito através das casas de aluguel. “A construção veio crescendo junto com o turismo. Na época não tinha muitos hotéis e eram raríssimas pousadas. O turismo na década de 80 e 90 era basicamente de veranistas em imóveis de temporada. Apesar disso, não havia ônibus de excursão, era gente com grana que vinha ficar na casa de 30 a 40 dias”, explica ele.
Ônibus de excursão. Para o presidente do SINDICIG, os ônibus de excursão representam um declínio no turismo da cidade. “A questão de ônibus de excussão na cidade já é mesmo o declínio do turismo, quando amos a ter um turismo de baixa renda. Antes, mesmo com o aluguel de casas era um turismo de alta renda, eram pessoas com poder aquisitivo alto, e com a ascensão das excursões, o turismo começou a cair”.

Declínio do turismo. Com o declínio do turismo, em meados dos anos 2000, a construção civil também começou a vender menos. “A construção civil veio crescendo porque os veranistas vinham e gostavam de Guarapari. Com isso, eles queriam ficar mais tempo. A estrutura educacional permitia isso. Nós tínhamos três, quatro meses de férias. Eram três meses no verão e o mês inteiro de julho. A economia na época não era tranquila, mas era crescente. Como a distribuição de renda era menor, você tinha uma concentração e poucos destinos”.
Outros destinos. Fernando destaca que o declínio do turismo veio com a concorrência de outros destinos e a falta de investimentos no turismo da cidade. “Guarapari ou ainda no período dos anos 90 até o ano 2000 por uma fase crescente forte na construção porque do morador do Espírito Santo. O morador do ES queria ar o final de semana e o verão na melhor cidade do estado. Então ele ou a ter aqui, a sua segunda opção e ainda é até hoje, a sua primeira opção de segunda moradia”.
Segunda moradia. Guarapari se transformou em segunda moradia de muitos capixabas e até mesmo de mineiros, cariocas e paulistas. “Chegamos a ser o segundo canteiro do estado (segundo município do estado com maior área de volume de construção em relação ao município), perdendo apenas para a cidade de Vitória. Hoje somos o quarto”, ressalta Fernando.

Turismo. Para Fernando, a cidade cresceu junto com o turismo. “Quando a questão industrial estava crescente em Guarapari, a gente estava caminhando para o equilíbrio ideal na construção civil em Guarapari. O que seria isso? é você vender a metade dos seus imóveis pra fora e metade para os moradores da cidade. Tínhamos vários lançamentos na cidade, o programa minha casa minha vida, e por isso a construção estava fluindo muito bem. Mas os fatores industriais acabaram atrapalhando o crescimento de Guarapari”.
Impacto da Samarco. O que antes se tornava o equilíbrio ideal na construção civil da cidade, ou a sofreu com o impacto da Samarco, que de acordo com o presidente do SINDICIG foi violento. “Do mercado interno da cidade, caiu mais de 50% das vendas dos imóveis. Com a questão industrial, os investimentos estavam aumentando, ai veio a notícias negativas – primeiro não veio a siderúrgica, não veio a Petrobras, não veio o Porto, e com o fechamento da Samarco isso foi catastrófico. O município cresceu ainda mais a dependência do público externo. A gente estava caminhando para o equilíbrio, e hoje vendemos de 70 a 80% pra fora. Vendemos pra gente que vem pra Guarapari como segunda opção de moradia”.
Trabalhando o turismo. Para Fernando, precisamos trabalhar mais o turismo e com isso voltar a desenvolver a cidade. “Ficamos ainda mais dependentes do turismo. Primeiro precisamos vender o turismo, pra depois vendermos os imóveis. A qualidade dos imóveis é crescente, é um trabalho grande do sindicato nesses 23 anos. Investimos em mão de obra, em tecnologia que resultam em um ótimo trabalho no dia a dia da construção”.
Segundo o presidente do SINDICIG, existe uma dezena de negócios que podem surgir na cidade para melhorar Guarapari. “A ideia de se construir um polo universitário, incrementaria na cadeia turística da cidade. Durante as aulas os imóveis estão ocupados, e após isso, são ocupados por visitantes. A relação construção e turismo vem crescendo com o tempo. A gente faz parte de uma cadeia. Nós participamos de tantos conselhos, em busca de ajudar no desenvolvimento da cidade. Esse é o retrato da construção civil”, ressalta.
Além de um polo universitário, um polo empresarial segundo Fernando também pode contribuir para a construção financeira e até turística. “Nossa cidade tem crescido muito em infraestrutura, e vinha crescendo melhor em função da Samarco, quando tínhamos mais academia, tudo mais estruturado. Nós somos dependentes de investimentos de novos negócios”.
Para o futuro, Fernando conclui. “A gente entende que essa crise já ou. A crise política está virando a página e a gente já sente no cliente uma segurança para voltar a comprar. O estudo de um projeto até sua conclusão leva de 15 a 20 anos, e o comprador adquiri pra vida inteira, então ele precisa ter segurança. Agora é o melhor momento para se investir. O imóvel não vai cair mais. A compra do imóvel é o maior investimento que alguém pode fazer”.